Palavra e Vida com o pe. Amarildo Luciano – Comunicação homilética

Palavra e Vida com o pe. Amarildo Luciano – Comunicação homilética

17 de maio de 2021 0 Por redação

A homilia é, em nosso tempo, um tema do qual se fala muito, a favor ou contra, uma realidade viva que interessa tanto aos pregadores quanto aos fiéis da comunidade cristã. É um ministério nobre, prazeroso para muitos dos que o realizam e proveitoso para muitíssimos fiéis. Porém, ao mesmo tempo, é um ministério difícil.

Sobre as dificuldades em torno da homilia, basta consultar o livro Ministério da Homilia (Aldazábal, 2018) para recordar que: a) algumas dificuldades dizem respeito à intimidade e conhecimento da Palavra de Deus que é necessário transmitir e traduzir para a vida de hoje; b) outras vezes, as dificuldades surgem a partir da própria pessoa do pregador; c) também a comunidade é fonte de perguntas que afetam a realização da homilia; d) muitos problemas acompanham a homilia do ponto de vista da linguagem que é necessário empregar nela, ou seja, do “como” transmitir a mensagem da Palavra a essa comunidade concreta; e) não é demais recordar que estas dificuldades que experimentamos no ministério da homilia não são novas. Há tempo se fala da “crise da homilia”, que é, a rigor, crise da pregação ou crise da religiosidade e da fé em geral, inclusive, em nações tradicionalmente cristãs.

Neste artigo, a proposta é refletir sobre a identidade da homilia. Certamente esse conhecimento nos ajudará a ter zelo por esse ministério que a Igreja nos confia.

É importante ter consciência da identidade própria da homilia. Ou seja, saber, antes de tudo, o que ela é e o que se pode pedir dela. Respeitando sua identidade, dentro do conjunto da ação eclesial, é como melhor podemos exercer este ministério.

As três dimensões básicas da pregação

Dentro do amplo campo da pastoral profética da Igreja, é necessário distinguir diversos gêneros de pregação da Palavra de Deus: sobretudo a evangelização, a catequese e a homilia, que formam idealmente um processo unitário e sucessivo.

A evangelização se refere ao primeiro anúncio, à apresentação global da Boa Noticia, do “querigma” ou “proclamação” de Cristo como realização pessoal da salvação de Deus. É a dimensão mais “missionária” da pregação.

A catequese sistematiza e aprofunda o que a evangelização anunciou globalmente. É a dimensão mais “didática” da pregação, pela qual se vão apresentando por partes os conteúdos da mensagem.

A homilia é a comunicação da Boa-Nova dentro da celebração litúrgica, que é seu âmbito próprio. É uma exortação para que aquilo que já se crê globalmente (como evangelizados) e se vai entendendo em profundidade (como catequizados) vá calando em nossa mentalidade e seja levado para a prática na vida, seguindo a mensagem das leituras escutadas na celebração.

A homilia tem seu ambiente própria dentro da celebração litúrgica. Este é seu traço característico, que a distingue dos outros tipos de pregação. Portanto, escutam-na, em princípio, os que já são crentes e estão celebrando a Eucaristia ou outros sacramentos. Assim como a evangelização e a catequese podem ter como destinatária uma única pessoa, a homilia dirige-se a uma comunidade. Tem como base as leituras bíblicas proclamadas na celebração e como meta o convite persuasivo a traduzir o que foi escutado para a vida, seguindo o estilo de conduta que nos marca a Palavra de Deus. Ela é uma “exortação”. O sujeito próprio desta pregação homilética é o ministro que preside a celebração; portanto, normalmente, um ministro ordenado, ou também um leigo, se tiver sido devidamente encarregado deste ministério.

O pregador, antes de assumir esse encargo, precisa tomar consciência de que ele não é o dono da Palavra, mas seu servidor. Ele não é o criador da mensagem. A Palavra é de Outro. “Ele não era a Luz, mas veio para dar testemunho da Luz. A Palavra era a Luz verdadeira” (Jo 1,8-9). Quem dá uma conferência é dono do seu tema. O que prega uma homilia, não.

A homilia também educa o pregador em sua atitude pessoal de fé. Para ser pregador da Palavra que ressoa para a comunidade, o pregador deve ouvi-la primeiro e acolhê-la pessoalmente. É, antes que pregador, ouvinte. Inclusive, quando está falando, não deveria escutar a si mesmo, mas em todo momento, estar atento à Palavra de Deus.

Pe. Amarildo Luciano, CSsR

Vice-Provincial Redentorista, comunicador e mestrando em teologia