Palavra e Vida com o pe. Amarildo Luciano – Teologia e outros saberes

A teologia, fundamentada na Palavra de Deus revelada, desde a sua origem como conhecimento científico, vem dialogando com outros saberes, especialmente com a filosofia. Mormente nos últimos tempos, o conhecimento teológico se depara com as novas descobertas das ciências modernas. Estas não se tornam uma ameaça para a teologia, mas fonte de novos conhecimentos com quem se faz necessário dialogar.

Vale dizer que os outros saberes com os quais a teologia se confronta não são contraditórios entre si, mas complementares. São saberes que questionam e obrigam a teologia a investigar mais a fundo o sentido da vida e a relação do ser humano com as demais criaturas, incluindo o meio ambiente.

Vivemos tempos de muitas descobertas científicas, especialmente das chamadas ciências humanas. A antropologia e a psicologia cada vez mais se apresentam com novas perguntas a respeito da origem e do fim da humanidade, com todas as consequências existenciais (enquanto seres de pensamentos e sentimentos que perguntam pelo sentido da vida). A sociologia se esforça para compreender o ser humano e as suas relações sociais. E a teologia que, como ciência, busca entender por meio da razão, intelecção, a relação do ser humano com o Criador e as demais criaturas, relação que es estabelece por meio da fé, se esforça para pensar consentindo sobre o seu papel no campo da revelação, no seu sentido mais amplo.

É conhecido o velho e sempre novo dilema entre fé e razão que ao longo dos anos vem sendo superado pelas descobertas das ciências particulares, que dentro do seu campo de investigação, oferecem à fé muito mais confirmação do que negação.

Frente às novas descobertas apontadas acima, a teologia vê-se diante do desafio de legitimar-se politicamente como ciência com objeto e método próprios apta para dialogar com os demais saberes. O saber teológico não é subserviente e nem unilateral, mas legítimo e fundamentado, em relação muito estreita com as outras áreas do saber, especialmente com a filosofia, a antropologia, a sociologia, a psicologia e a comunicação.

Especialmente a partir do Magistério e do pontificado do Papa Francisco, percebe-se que a teologia fundamental deve se esforçar cada vez mais para compreender-se como teologia da criação capaz de ajudar a humanidade, com todos os saberes que a configuram como uma sociedade dita emancipada, para o cuidado e defesa da vida, no sentido mais amplo possível.

A religião, como forma de organização, e como primeira interessada no saber teológico, só cumpre o seu papel fundamental de serviço à humanidade se se compreender como organização aberta aos desafios dos tempos e dos lugares onde o ser humano concreto habita e com o qual estabelece relação direta ou indireta. Caso contrário, a religião se tornaria meio de alienação e prestaria um desserviço à humanidade já tão ameaçada.

Diante do que foi exposto, é preciso reafirmar a consciência de que os saberes devem compartilhar os conhecimentos e as novas descobertas que podem contribuir para a preservação da vida no planeta (vida em abundância) e facilitar a relação dos homens entre si e com toda a criação. “Tudo está interligado”.

Pe. Amarildo Luciano, Vice-Provincial Redentorista, comunicador e mestrando em teologia