Coluna “Palavra e Vida” com o padre Amarildo Luciano – DESCER A MONTANHA

DESCER A MONTANHA

Pe. Amarildo Luciano, CSsR – Vice-Provincial Redentorista, comunicador e mestrando em teologia

No Evangelho de Lucas, Jesus desce a montanha e profere as bem-aventuranças para os discípulos que ele encontra na planície (Lc 6,17.20-26).

É muito interessante notar que outros evangelistas enfatizaram muitas outras vezes a subida de Jesus. “Vendo Jesus a multidão, subiu a montanha e sentou-se” (Mt 5,1). Ficou na memória o registro da subida de Jesus com Pedro, Tiago e João ao monte identificado pela tradição como sendo o Tabor (Mt 17,1-9; Mc 9,2-13; Lc 9,28-36). Lá no cume da montanha, extasiado pela experiência da transfiguração, Pedro propõe ficar lá no alto, no topo, onde nada perturbava. Mas a Sagrada Escritura diz que Pedro estava sem saber o que dizer. Fez essa proposta levado pela euforia do momento, pelo medo ou porque, de fato, havia esquecido dos que tinham ficado na planície. Fato é que Jesus não aceita a proposta de Pedro e desce com eles.

No Evangelho segundo Mateus, Jesus profere o sermão das bem-aventuranças no alto monte, perto do Mar da Galileia. Em Lucas, as bem-aventuranças são proferidas na planície.

Na planície estão aquelas pessoas que não conseguem subir o monte: pobres, doentes, famintos – pessoas fracas, sem forças. Então agora entendemos a dinâmica de Jesus que sobe e desce a montanha. Sobe para rezar e ensinar os discípulos a nova lei, é verdade, mas também desce para estar com os que não conseguem subir.

Na planície Jesus anima os cansados, os sem forças e talvez até sem esperança. Jesus nos ensina que devemos procurar subir, alcançar o topo na caminhada cristã, na vida profissional, etc. Mas também nos ensina a não esquecer de quem não consegue ascender na vida. É preciso, pois, lembrar de quem começa a caminhar conosco e fica pelo caminho. Voltar à planície significa também voltar às nossas origens.

Descer a montanha tem tantos significados. Cada pessoa deve avaliar o tempo que preciso descer a montanha, sair das evidências e ficar na planície, no meio de todo mundo, no anonimato.