#ColunaPalavraeVida – O FOLGADO E OS SUFOCADOS

#ColunaPalavraeVida – O FOLGADO E OS SUFOCADOS

27 de dezembro de 2021 0 Por redação

Pe. Amarildo Luciano CSsR – Vice-Provincial Redentorista, comunicador e mestrando em teologia

Aprendi com o médico psiquiatra e educador Içami Tiba, que uma das causas dos maiores sofrimentos de algumas mães (e pais) é o sentimento de culpa.

Lembro que li um artigo chamado “o homem marcado pelo sentimento de culpa”, mas faz um pouquinho de tempo e não encontrei mais a referência hoje. Estou sem sono, é madrugada, o dia vem vindo, e aproveito o silêncio das 04h da manhã para colocar no papel alguns pensamentos que podem nos fazer pensar.

Este texto se divide em duas partes. A primeira trata do sentimento de culpa das mães que se cobram exageradamente (alguns comentários de Içami Tiba), e a segunda aborda o tema das regalias que algumas pessoas folgadas vivem sem nenhum sentimento de culpa – quase ao contrário da primeira parte. Na verdade, apenas abordo o tema pelo outro lado (sobre o fruto ruim da árvore boa, talvez, se é que se pode falar assim).

Partilho com vocês algumas palavras do Içami Tiba e faço alguns comentários a mais:

“Se eu pudesse aliviar o mundo de um sofrimento, seria o de remover as culpas indevidas que a maioria das mulheres carrega dentro de si, na função de mãe.
Para qualquer problema comportamental apresentado por uma criança ou adolescente, ou até mesmo por alguns adultos, há uma mãe se responsabilizando por ele. Há, sem dúvida, responsabilidades de que as mães não podem se furtar na educação dos filhos, mas uma boa parte da culpa é devida à cultura da época e do local, e pode ser evitada.”

Na minha experiência no confessionário, no aconselhamento de casais, especialmente no ECC – Encontro de Casais com Cristo – serviço da nossa Igreja, lido com pais e mães que querem saber onde erraram para que seus filhos tenham feito escolhas tão antagônicas àquelas que lhes foram mostradas em casa, até mesmo com o exemplo. Existem pais extremamente coerentes e abertos, compreensivos, sofrendo por causa das revoltas dos filhos que parecem viver uma eterna insatisfação.

“Hoje a grande culpa indevida é a que a maioria das mães pensa/sente que está “em falta” com os filhos quando trabalha fora. Essa culpa, que sabota a felicidade familiar, deve-se ao pensamento de que ela deveria se dedicar mais aos filhos. Algumas mães podem ter a opção de não trabalhar e permanecer mais tempo com os filhos. Mas estes não precisam delas o tempo todo e, se precisarem, é porque já existe uma dinâmica de comportamentos problemáticos: o sufocado produz e sustenta um folgado. Ou seja: embaixo de um sufocado (mãe) tem sempre um ou vários folgados (filhos e às vezes também outros adultos).

Enquanto a mãe não resolver essa equação, ficará cada vez mais sufocada, e os filhos, cada vez mais folgados, malcriados e tiranos. Essa sufocada mãe vai achar que 24 horas por dia são insuficientes para atender a tantos folgados e… lá vem a culpa indevida!

A sufocada vai se sufocando porque quer deixar todos os filhos satisfeitos somente quando aprenderem a cuidar de si e dos seus pertences e ajudar os conviventes necessitados. Essa prática entra em conflito com outro pensamento: é obrigação da mãe fazer sempre tudo e mais alguma coisa para os filhos.

Quem foi que estabeleceu essa lei? Quem ensinou a mãe a ser sufocada? Vem da época do machismo, quando surgiu a figura da “boa mãe”, que todas as mulheres buscavam e buscam ser, cujo resultado final é perpetuar os filhos no folgado e inadequado machismo.

A boa mãe ensina o filho a fazer o que é capaz e cobra. Cobrança, estabelecimento de limites, responsabilidade que gera liberdade, ética para ser bem tratada, mesmo estando ausente, perde quem não cuida do que tem, prazos existes para serem cumpridos, necessidades têm que ser satisfeitas e vontades, quando puder, são costumes que devem ser adotados em casa, para que a mãe tenha prazer e paz ao voltar para o “lar, doce lar”…
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Agora, após essa abordagem mais restrita à família, ampliemos o foco para o trabalho, para a comunidade, etc. Também aqui lidamos com os sufocados e os folgados. Com pessoas que se tornaram caras (literalmente, pesadas, difíceis de serem sustentadas) e geralmente não somam com quase nada (são os folgados prontos a fazerem sempre mais exigências e que vivem às custas dos que se sacrificam e se sufocam pela causa).

É verdade que em todo grupo (família, igreja, trabalho) onde há um folgado egoísta, existem outros sufocados que trabalham seriamente e sustentam suas regalias.

Pessoas folgadas são espaçosas, exigentes e insatisfeitas. Nada lhes basta. Tudo falta. O mundo delas é imaginário (vivem alheios à realidade) e os outros são instrumentos, objetos de uso, vistos como seus devedores.

Pessoas folgadas também se fazem de vítima. A imagem que têm de si mesmas é a de que ninguém reconhece ou apoia suas iniciativas, quase todas voltadas a satisfazer exclusivamente a seus interesses egoístas (porque o folgado se vitimiza e só pensa o mundo a partir de suas próprias necessidades).

O folgado cobra quando ajuda quem está sufocado.

Por outro lado, a pessoa honesta, comprometida, se sacrifica pela causa, por um ideal, por aquilo que se tornou maior do que seus próprios interesses.

O honesto luta para salvar, para não perder, enquanto o folgado, cedo ou mais tarde, sem peso na consciência, arrumará suas malas e partirá em busca de outros trouxas que lhes ofereçam o espaço que ele acha que merece.