Meio milhão de vítimas da pandemia

Meio milhão de vítimas da pandemia

21 de junho de 2021 0 Por redação

Mestre, estamos perecendo e tu não te importas? (Mc 4, 38)

Quem participou da liturgia da nossa Igreja neste fim de semana, escutou a história da travessia do Mar da Galileia em meio a uma tempestade.
Os discípulos estão numa travessia difícil. Estão navegando em direção da outra margem, como Jesus lhes indicara. A outra margem nos aponta o fim da nossa travessia neste mundo? A vida é uma travessia no mar da existência cheia de tempestades.

No evangelho Jesus e os discípulos são surpreendidos por uma tempestade no mar, um furacão, coisa que acontecia e acontece no Mar da Galileia. É uma cena cheia de significados, indicando mais que a tempestade de ventania forte e ondas enfurecidas. Vento forte e mar bravio são representações das forças do mal, hostis ao projeto de Deus, ao seu Reino. A barca está já se enchendo de água e os discípulos se desesperam. Acordam Jesus que dormia na popa da barca: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”.

A barca representa a comunidade, a Igreja. A Igreja no meio da tempestade. Os ventos são contrários.

Jesus se levanta e ordena ao mar que se cale. É como um exorcismo. “Silêncio. Cala-te”. O mar se aquieta. E ele reclama com os discípulos por serem tão medrosos, parecendo que não têm fé.

“Em março do ano passado, numa sexta-feira da quaresma, num entardecer chuvoso, vimos o Papa Francisco sozinho, atravessando a praça de São Pedro vazia, para iniciar um momento de oração. Foi uma cena impressionante que encheu de lágrimas muitos corações. Ele subiu as escadas da Basílica de São Pedro mancando e conduziu uma hora de oração inspirada neste evangelho da tempestade. As ruas de Roma estavam vazias pelo rigoroso lockdown e o vírus varria o mundo fazendo vítimas em todos os países. A barca afundando. Ele leu no evangelho: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não tem fé?” (Pe. João Carlos).

No Brasil a tempestade têm nomes: coronavírus, enchente, corrupção, desleixo, descaso, polarização, violência, fome.
E a cada dia escutamos alguém dizer que o Brasil não tem mais jeito, estamos mesmo perecendo. E os cristãos, o que temos a dizer ao povo faminto, enlutado, desempregado, abandonado? A quem recorrer? A quem pedir ajuda? Contra quem reclamar?

Parece injusto se simplesmente apontarmos para Jesus e pedirmos uma interferência para acalmar nossas tempestades, se não estivermos dispostos a mudar nossa postura de bajuladores, de defensores do que está errado e não assumirmos uma posição crítica diante do ventos provocados propositadamente para distrair e dividir o povo.

Vamos gritar por Jesus, mas vamos gritar também contra quem está indiferente ao sofrimento de muitos. A tempestade demora mais enquanto alguns insistem em não usar máscaras, não cuidar de si e do próximo, e nem lutar por vacina para todos.

Vamos gritar por Jesus reconhecendo sua ação bondosa nos gestos de generosidade de tantas pessoas despretensiosas que não hesitam em repartir o pão e nem negam oportunidades aos que buscam emprego. Vamos reconhecer o valor da vacina que chega nos trazendo esperança e acalmando os ventos do medo que atentam contra a nossa prática de fé. Que Deus ilumine cada vez mais os cientistas. E que os políticos não neguem o acesso de todos a esse bem comum.
Que reconheçamos o avanço da vacina na nossa cidade e não baixemos a guarda.

E, por fim, indico três posturas para os cristãos na tempestade:

  1. Lembre-se sempre que Jesus está no nosso barco, enfrentando a tempestade também. Não estamos à deriva.
  2. Peçamos a sua ajuda. Que ele ordene e tudo se acalme. Mas peçamos com fé e confiança.
  3. Não nos desperemos na tempestade. Numa crise todos nós precisamos de equilíbrio para não piorarmos as coisas.

Pe. Amarildo Luciano, Vice-Provincial Redentorista, comunicador e mestrando em teologia