MP do Amazonas coordena missão do CNDH sobre denúncias de tortura no sistema socioeducativo do Ceará

MP do Amazonas coordena missão do CNDH sobre denúncias de tortura no sistema socioeducativo do Ceará

18 de setembro de 2025 0 Por redação

Resultados das inspeções foram apresentados durante reunião do Conanda; relatório técnico será elaborado com recomendações para o Executivo cearense

Durante a 340ª Assembleia Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), realizada nesta quinta-feira (18/09), a procuradora-geral de Justiça (PGJ) do Ministério Público do Amazonas (MPAM), Leda Mara Albuquerque, apresentou os resultados da missão que coordenou no Ceará para apurar denúncias de tortura e violações no sistema socioeducativo. A PGJ é conselheira-titular do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).

A missão “Denúncias de Tortura e Violações de Direitos Humanos – Inspeção no Sistema Socioeducativo do Ceará” foi realizada entre 29 de julho e 1º de agosto de 2025 e contou com a participação de conselheiros do CNDH, consultores e representantes de entidades como o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), a Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced), o Coletivo Vozes, entre outros.

Seis centros socioeducativos foram inspecionados: Aldaci Barbosa Mota, São Miguel, São Francisco, Canindezinho, Dom Bosco e Patativa do Assaré.

As visitas constataram situações graves, como o uso frequente de isolamento disciplinar, a falta de estrutura para garantir direitos básicos, problemas de higiene e alimentação, doenças de pele, relatos de lesões causadas por balas de sal e o uso de facões e foices por agentes. Também foram verificadas unidades superlotadas, dormitórios trancados com parafusos e a ausência de atividades pedagógicas.

Segundo a PGJ Leda Mara Albuquerque, o cenário é alarmante e necessita de uma solução definitiva das autoridades.

“Visitei a unidade Aldaci, relativamente pequena, porém crítica. Minha maior preocupação é a saúde dos adolescentes, que estão com um estado psicológico extremamente fragilizado. Muitos utilizam medicamentos para controlar crises, mas a coordenação não soube informar quais remédios são administrados. Isso revela um descaso inaceitável. Passados dez anos desde que medidas protetivas foram determinadas, nada mudou. É uma absurda violação de direitos humanos”, destacou.

Próximos desdobramentos

Entre as recomendações iniciais, a equipe indicou a reestruturação das unidades por meio de ações civis públicas (ACP), o fechamento daquelas em piores condições e a manutenção das medidas cautelares determinadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) até o seu efetivo cumprimento.

Um relatório técnico será elaborado pelo CNDH com análises detalhadas, dados sobre os adolescentes e registros das inspeções. Na assembleia, também foi aprovada uma nota oficial sobre a situação do sistema socioeducativo cearense e o descumprimento das Medidas Cautelares nº 60/15 da CIDH, em desfavor do Estado brasileiro.

O Conanda, criado pela Lei nº 8.242/1991, é o órgão central do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e acompanha de perto ações voltadas à proteção integral desse público.
Foto: Divulgação/CNDH