Policlínica Cardoso Fontes está abandonada pelo Estado e se tornou foco de contaminação de tuberculose, diz deputado
18 de setembro de 2021O deputado Dermilson Chagas fez uma fiscalização no local e encontrou máquinas e aparelhos danificados e sem manutenção há mais de seis meses, instalações do prédio com necessidade urgente de reforma e, sobretudo, falta de segurança higiênico-sanitária para pacientes e funcionários
A Policlínica Cardoso Fontes, localizada na rua Lobo D’Almada, Centro, zona sul de Manaus, era considerada referência para o tratamento de tuberculose multirresistente no Amazonas, porém esse status já não existe mais. Ao invés de uma unidade de referência, agora o local é totalmente sujo, com diversos aparelhos e equipamentos danificados e sem manutenção há meses e um ambiente totalmente inapropriado para o atendimento de pacientes, inclusive porque na sala do principal exame para detecção da doença já não existe mais a câmara de proteção para que os servidores não sejam afetados.
Além disso, as instalações do prédio apresentam fiação inadequada e utilização da mesma tomada para vários equipamentos, que são um risco para incêndios. No local, atualmente, só há um banheiro funcionando para atender as necessidades tanto de pacientes masculinos quanto femininos. O outro está desativado por falta de manutenção. Os exames não estão sendo realizados porque a maioria dos equipamentos estão à espera de reparo e substituição de peças.
Mas, a pior parte é o estado que se encontra a sala destinada para a realização dos exames, a Sala de Baciloscopia, onde se faz a confecção das lâminas. Todo o ambiente está infectado com bacilo de Koch, causador da tuberculose. O ar-condicionado vaza água e faz o ambiente ficar úmido, proliferando mofo. Em outras salas, também há condicionadores de ar com vazamento de água, forçando os funcionários a utilizarem um balde para evitar que a sala fique com o piso totalmente encharcado.
Este foi o cenário que o deputado Dermilson Chagas (Podemos) encontrou, na última quinta-feira (16/9), ao realizar uma fiscalização-surpresa na Policlínica Cardoso Fontes. No local, o parlamentar foi parado por pacientes que imploravam por ajuda e se emocionaram ao relatar os vários problemas e humilhações que passam para conseguir realizar exames e consultas na unidade, que, até então, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), divulgava ser a unidade de referência para o tratamento da doença.
“Eu estou completamente perplexo com o que eu acabei de ver, e não consigo acreditar que o Governo do Amazonas relega essas pessoas que já estão sofrendo terrivelmente com essa doença e ainda tem de implorar por atendimento em um hospital público, que é mantido com contribuição do cidadão. Isso é desumano. Mais do que desumano, é cruel, é perverso e isso não pode e nem vai ficar assim”, garantiu Dermilson Chagas, que disse que cobrará providências da Secretaria de Estado de Saúde.
Equipamentos danificados
Dermilson Chagas explicou que os principais equipamentos danificados são o autoclave, que realiza a esterilização de materiais; a Cabine de Segurança Biológica, também chamada de CBS ou Capela, que serve para proteger os funcionários durante a realização do exame; o Gene Xpert, que identifica a tuberculose e avalia a resistência; o microscópio, usado na realização de exames, entre outros.
Amazonas no 1º lugar no ranking nacional de casos
No dia 7 de junho de 2021, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) divulgou que o Amazonas ocupa, pelo quarto ano seguido, o 1º lugar no ranking de estado com o maior número de casos da doença no Brasil. Segundo o órgão, em 2020, o Estado registrou 67,2 casos de tuberculose a cada 100 mil habitantes. Esse número é mais do que o dobro da média nacional, que foi de 32,4 casos para o mesmo grupo.
Sobre a doença
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível e é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. A doença afeta principalmente os pulmões, mas pode se manifestar em outros órgãos e/ou sistemas. A forma extrapulmonar, que acomete outros órgãos que não o pulmão, atinge principalmente pessoas com HIV que estão com comprometimento imunológico.
No Brasil, a incidência da doença é alta, pois, a cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose. Calcula-se que, durante um ano, em uma comunidade, um indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas. No cenário mundial, a doença afeta cerca de 10 milhões de pessoas e mais de um milhão de pessoas vem a óbito anualmente.
A tuberculose é uma doença de transmissão aérea e se instala a partir da inalação de aerossóis oriundos das vias aéreas, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), que lançam no ar partículas em forma de aerossóis contendo bacilos. A doença não é transmitida por objetos compartilhados, como talheres, copos, entre outros, e tem cura, caso o tratamento seja seguido corretamente.
O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse na forma seca ou produtiva. Por isso, recomenda-se que todo sintomático respiratório, que é a pessoa com tosse por três semanas ou mais, seja investigado para tuberculose. Há outros sinais e sintomas que podem estar presentes, como: febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e cansaço ou fadiga.